O grande salto de um trampolim para o topo do cirque du soleil.

Emerson Neves é o atual head coach do Cirque du Soleil, posição que o coloca entre os maiores especialistas do mundo em saltos e acrobacias artísticas. O que muita gente não sabe é ele começou sua carreira no Clube Atlético Juventus, aos 8 anos de idade. Aquele menino nunca sonhou, sequer imaginou, que um dia sua trajetória o levaria tão longe. Hoje, aos 50 anos, ele nos conta como de ex-atleta de saltos ornamentais transicionou para a arte e o entretenimento para tornar-se referência mundial em seu segmento.

– O que fez você chegar tão longe na sua carreira?  

Emerson Neves: Acredito que a combinação dos exemplos que recebi dos treinadores que tive em toda minha carreira de atleta, aliados a minha disciplina, foco e dedicação, fizeram com que eu me tornasse o que eu me tornei como profissional.  Através dos saltos ornamentais comecei a fazer shows aquáticos no exterior e, um dia,  um grande amigo meu, fez com que eu gravasse um vídeo para o escritório do Cirque Du Soleil. Após três anos, fui selecionado para ser acrobata por 7 anos, e hoje estou no meu 4º show, viajando o mundo como treinador dos artistas do maior circo do mundo.

– Quais foram suas maiores conquistas e emoções? 

Emerson Neves – Como atleta foram diversas emoções.  Todo salto novo que eu fazia toda competição que eu ganhava era uma grande emoção. Representei o Brasil em 5 mundiais, fui 5 vezes campeão sul-americano e, a meu ver, outra grande emoção foi 

ter sido aceito pelo treinador da seleção americana e olímpica de Atlanta, Dick Kimball, para treinar com ele. Foi um sonho! Agora, a maior emoção de todas, sem dúvida, foi quando fui aceito para fazer parte do elenco de acrobatas do Cirque Du Soleil. 

– Todo atleta vive não só de emoções, mas também de decepções.  Você tem alguma que poderia compartilhar conosco? 

Emerson Neves – A maior decepção que tive, sem dúvida nenhuma, foi não ter ido para as Olimpíadas, principalmente a de Atlanta! E frustrante por cheguei muito perto, pois tinha me mudado para Michigan para treinar com o Mr. Kimball por três anos.

–  Saltando por todo o mundo, em vários tipos de competição e depois como acrobata, por que tipo de situação inusitada você já passou?

Emerson Neves – Diversas! Como atleta foi em uma competição internacional, onde havia na plataforma um elevador para os atletas subirem. Meu treinador disse que eu não usasse, pois ele acreditava que havia o risco de alguém ficar preso ali e era melhor passar longe. Eu, muito teimoso, resolvi usar. Resultado: fiquei preso, e todos tiveram que esperar alguém me tirar lá de dentro para que a competição pudesse continuar.   Como acrobata, no Cirque, a verdade é que todos os dias acontece algo inédito e diferente que passa despercebido pelo público. Mas, pelo fato de sermos preparados para vários contratempos que possam ocorrer durante o show, as pessoas acabam não percebendo.

Você já se sente uma pessoa realizada ou ainda tem algum sonho que gostaria de realizar? 

Emerson Neves – Eu jamais pensei que um dia trabalharia para o Cirque Du Soleil! Tanto, que só caiu minha ficha quando cheguei em Montreal para me apresentar na empresa e conheci, pela primeira vez, aquela fábrica de sonhos.  Depois, passar de acrobata para treinador da equipe também foi um grande sonho realizado. Atualmente, meu objetivo principal é me tornar diretor artístico do circo. 

Sabemos que todo processo de um vencedor exige muita dedicação. Qual foram as maiores dificuldades que você enfrentou? 

Emerson Neves – Desde o comecinho da minha vida de atleta, e até hoje, ainda há muitos obstáculos. Quando eu saltava, morava longe do clube e gastava duas horas para ir e para voltar. Acredito que isso já foi me preparando para quanto chegasse mais à frente lidar com desafios maiores. No meu primeiro acidente fazendo show, onde não tive apoio algum da companhia, tive que me afastar por um período das piscinas até que tivesse me recuperado e com condições de dar continuidade a minha carreira. Situações como essa nos desfiam tanto física quanto emocionalmente. Portanto, o processo é interminável e os problemas sempre surgirão, nos tornando cada vez mais fortes.

– Para tudo na vida existem dois lados, os prós e os contras estão lá. Na sua carreira, como você poderia dizer que isso se encaixa? 

Emerson Neves – Com certeza, existe sim! Conhecer o mundo todo e virar um ídolo para o público de diversos países e diferente culturas é muito bom, mas pelo outro lado, você não pode ir no enterro do seu pai. O que é muito triste. 

– Algum momento você pensou em desistir? 

Emerson Neves – Quando tive uma contusão no tornozelo, quase desisti após o médico ter dito que jamais eu poderia voltar a saltar em alto nível.

– Quem foram seus maiores incentivadores? 

Emerson Neves – Nos saltos ornamentais você, Roger, foi uma importante referência como atleta e saltador.  O meu treinador Gabino, minha irmã, minha avó, dona Wilma diretora do Clube Pinheiros. Agora, no Cirque, foi um acrobata búlgaro, o amigo que citei que me pressionou para mandar o vídeo que resultou na minha contratação. Michael Kampo, meu primeiro treinador internacional, me ensinou muito dentro do Cirque, principalmente o processo para que eu evoluísse de artista para treinador, me dando muitos conselhos.

Qual conselho você daria para atletas e acrobatas em início de carreira? 

Emerson Neves – Acreditar. Primeiro, na sua intuição. Depois criar hábitos saudáveis e trabalhar para nunca perder o foco, pois sempre haverá pessoas tentando te colocar para baixo. Foco, dedicação e fé.

– Se você tivesse apenas 45 dias de vida, o que você faria? 

Emerson Neves – Eu ia viver ao lado das pessoas que eu amo, curtindo muito todo o tempo e me acertaria com todos, para viver em paz e harmonia. “

@emersoncirque