Ator, modelo e produtor artístico 

Ricardo Macchi é uma daquelas figuras que marcaram a dramaturgia brasileira. Você pode concordar ou não, mas sem ele quem lembraria do cigano Igor? Ou melhor, quem o eternizaria? Nesse papo, você terá a oportunidade de surpreender-se ao conhecer um outro Ricardo Macchi; que do alto dos seus 1.90m, aos 53 anos, nos mostra seu lado simples, gentil, batalhador e apaixonado por tudo que faz. 

Sua relação com os esportes, seu porte e beleza o levaram muito cedo ao sucesso internacional como modelo. Depois, descobriu os palcos e, meteoricamente, fez sua estreia na tv em grande estilo. O que muita gente não sabe é que Ricardo Macchi nunca se ausentou do mercado artístico, onde há décadas segue dirigindo, roteirizando, produzindo documentários de responsabilidade social, investindo no cinema e muito mais. No papo abaixo, ele compartilha conosco sua  opinião sincera acerca de suas conquistas,  carreira, expectativas e sonhos. 

1 – Você começou sua carreira como modelo bem cedo. Como tudo começou?

Ricardo Macchi – Eu tinha 15 anos, era atleta, gostava muito de correr e fazer barras no parque público que tinha perto da minha casa, em Porto Alegre. Um dia, estava lá, quando fui abordado por um produtor da Zero512.  Ele estava buscando alguém com meu perfil e afirmou que, se eu topasse, era certo que iria fazer essa campanha, ganhar uma grana e ficar famoso. 

Eu já havia sido abordado antes, e recusado diversos convites para ser modelo. Mas dessa vez era diferente, tinham muito profissionais de prestígio envolvidos e eu aceitei fazer essa campanha publicitária. Fui, participei e saí encantado! A campanha era para as lojas Incosul, que nem existem mais. Foram dois dias de trabalho intenso e lá estava eu, descobrindo o universo da publicidade com muita alegria. E o melhor, ganhamos um prêmio com este trabalho, que me abriu portas para uma campanha com as lojas Renner e daí em diante não parei mais. Fiz catálogo para todas as maiores malharias do país, como: Hering, Mafisa, Sulfabril. E claro, o fato de o Rio Grande do Sul ser um grande celeiro de modelos, me ajudou muito.

Daí em diante não parei mais. Trabalhava diariamente, fotografando e desfilando. Dois anos depois, com 17 anos, fui um dos três modelos selecionados no “The Look Of The Year”, um evento importante da agência Elite que selecionava novos talentos e, aí, me levaram para trabalhar em São Paulo. Quando cheguei lá, logo no primeiro dia, fechei um grande contrato internacional para uma campanha da “Levi’s”, esse pela agência L’Equipe, e, a partir daí, fui ganhando nome, segui crescendo no mercado nacional, depois no internacional e não parei mais.

2 – E a carreira de ator? Como surgiu?

Ricardo Macchi – Como modelo eu fazia muitos comerciais e aí, pensando em como melhorar minha atuação neles, acabei indo fazer um curso de teatro. Após ter feito o curso, fiz um teste para a agência do Wolf Maia para a peça Blue Jeans. Estreamos no Rio de Janeiro, no Teatro Galeria, com Maurício Mattar, Alexandre Frota e Fábio Assunção. Depois, fomos para o Palladium, em São Paulo, que foi um sucesso.  

Continuei trabalhando como modelo e quando voltei para passar férias no Rio de Janeiro, em 1995, fiz um teste para a novela “Tropicaliente” junto com o Márcio Garcia e o Marcos Pasquim. Não entrei, mas meu teste ficou no acervo da Globo.

Segui trabalhando como modelo e, ainda no Rio, participei de uma semana de moda onde fui o modelo de maior sucesso no evento. De lá, voltei para a Europa, para trabalhar com grandes marcas como Valentino e outras. 

Em meio a essa agenda, inesperadamente, o telefone tocou e era a Globo, que estava em busca de um novo rosto, queriam lançar um novo galã e me chamou para fazer um teste para “Explode Coração, da Glória Peres.  Depois fiquei sabendo que quando a Glória me viu, falou: é ele! A partir daí, esse trabalho mudou minha vida mudou radicalmente. Eu fiz o teste no sábado, no domingo já saiu uma foto minha na capa do “O Globo”, dizendo que eu seria o galã da nova novela. 

3 – O que você acha que fez você alcançar todo este sucesso? 

RicardoMacchi – Primeiro Deus, que dá uma estrela que brilha e isso ajuda a acontecer. Mas, o que me fez chegar onde cheguei foi o meu profissionalismo. Durante a minha carreira, aprendi muito com o erro dos outros. Sempre fui esforçado, nunca atrasei nas gravações, chegava com meu texto pronto, evitava dar trabalho aos produtores. Era disciplinado e, só o fato de eu não beber, já me ajudava a estar sempre bem. O que para pode até parecer bobagem, mas presenciei muitos companheiros de profissão chegarem para trabalhar totalmente debilitados por terem saído na noite anterior ou por não se cuidarem, e isso impacta no resultado. 

4 – E o lado difícil? Qual foi a maior dificuldade para chegar onde você chegou?

Ricardo Macchi – Quando conto minha trajetória, que tem tantas coisas incríveis, pode até parecer que foi fácil, mas não existe caminho fácil.  Ao longo desses 30 anos de carreira enfrentei muitas dificuldades. Primeiro como modelo, me adaptando, aprendendo, me superando. Depois como ator, sendo lançado ao estrelato em um grande sucesso, recebendo um carinho enorme do público, lidando com as mais diversas críticas, sendo resiliente e compreendendo que a maior dificuldade no meu meio é a política do mercado de trabalho. Já a maior lição, é permanecer fiel a si mesmo, aos seus valores e saber valorizar suas conquistas. 

5 – Quais são as suas maiores conquistas, ou emoções? 

Ricardo Macchi – Minha estreia para o grande público aconteceu na tv, em horário nobre, numa novela que batia mais de 60 pontos no ibope, algo que hoje não acontece mais e que me lançou para inúmeras outras oportunidades. Hoje, quando olho para trás, sem dúvida, a minha maior emoção é o reconhecimento do público. É emocionante ver que até hoje as pessoas me reconhecem, me param, me tratam com muito carinho. 

6 – As decepções, forma muitas?

Ricardo Macchi – As maiores decepções foram com pessoas. Vê-las se corromperem, acharem normal fazer e propor coisas extremamente erradas para conseguirem benefícios próprios e chegarem aos lugares de poder que almejam. Gente assim, que consegue alcançar muito poder de forma inapropriada, acaba influenciando outros de forma inadequada, com potencial de traumatizar, de prejudicar; e que está presente em todas as áreas e segmentos.

7 – Ao se deparar com desafios e as dificuldades, como você lida com isso?

Ricardo Macchi – Eu nunca desisti de nada na vida. Desistir não existe na minha vida. Resiliência é meu sobrenome e, de verdade, para mim, todas as dificuldades que me são impostas se tornam desafios a serem vencidos. 

8 – Diante de desafios encontramos também quem nos apoia e incentiva. Quem foram seus maiores incentivadores? 

Ricardo Macchi – Logo no início da minha carreira na tv, meu maior incentivador foi um diretor da Globo, chamado Paulo Ubiratan, que apostou em mim, e, quando descobriu que eu não estava sendo dirigido como deveria, passou a me apoiar muito. Além dele, quem também me deu suporte nessa fase foi a atriz Regina Dourado, cujo apoio também foi muito importante.

9 – Você se sente realizado? Ou ainda falta algo?

Ricardo Macchi – Estou numa fase da minha vida que eu já poderia me aposentar. Mas isso não passa na minha cabeça. Realizei alguns sonhos, vivi coisas incríveis e continuo com fome de mais. Então, gostaria de produzir uma cultura construtiva, com bons valores e sem ter que depender dos outros para realizar projetos que sonho realizar no áudio visual. Ainda quero trabalhar mais por trás das câmeras, dirigindo um grande projeto, esse é um sonho a ser realizado.

10 –   Que conselho daria para quem nos lê e ainda está começando?

Ricardo Macchi – Após mais de 50 anos de vida e diante de um mundo onde a fama se tornou ainda mais desejável, eu quero dizer para as pessoas que a fama deve ser consequência de um bom trabalho. Cuidado para não se corromper, ainda mais nos dias de hoje com a hiper exposição das redes sociais.  Para tudo há um preço, e a fama também traz com ela seus desafios, inclusive emocionais. Se você não tiver a cabeça no lugar, pagará um preço muito alto. Muitos sucumbem a ponto de entrar em depressão diante das cobranças e da pressão que irão sofrer.

11 – Se você tivesse somente mais 45 dias de vida, o que faria? 

Ricardo Macchi – Eu faria um cruzeiro com toda minha família, pessoas que eu amo e com meu irmão amado Roger Chedid.

@ricardomacchioficial