“O Brasil é muito preconceituoso e hipócrita em relação a sexualidade. Somos atrasados e o resultado disso são os altos índices de violência sexual, estupros e DST´s”.
Carioca radicado em São Paulo, o excêntrico promoter, empresário e estilista Heitor Werneck transita pelas noitadas da capital desde os anos 80. Já esteve envolvido em eventos em clubes célebres como Madame Satã, Limelight e Massivo. Hoje Werneck dedica-se especialmente para as produções da “Luxúria” festa fetichista que acontece mensalmente em São Paulo e a partir deste mês percorrerá o Brasil, começando pelo Rio de Janeiro.
Baseado em um dos grandes pecados capitais da modernidade, o sucesso da festa “Luxúria”, dá-se pelo fato de quase haver festas com temática fetichista em São Paulo. Na trajetória da festa que começou itinerante, o sucesso foi tanto que chegou a passar por quatro espaços, mas todos ficaram pequenos para tantos interessados no projeto inspirado na estética do sadomasoquismo.
O público que frequenta essa noite sensual, e não explícita, é uma mistura que inclui desde empresários até a galera jovem. Um dos quesitos mais rigorosos é com o dress code. “Você não vai ver ninguém andando de jeans e camiseta. A cada edição estabelecemos um tema, como contos de fadas, caubói, bruxaria… Quanto mais no clima do evento a pessoa estiver em relação à roupa, menos ela vai pagar pelo ingresso. Para não errar, o segredo é ir de preto”, explica Werneck.
Segundo o produtor, “o Brasil é muito preconceituoso e hipócrita em relação a sexualidade”. É um país com muitos tabus e vários problemas com o corpo alheio e de outra pessoa. Há uma falta de educação sexual e respeito na base do ensino ao brasileiro o que faz com que as pessoas não exercitem sua sexualidade tranquila, nosso país tem índices muito grandes de violência sexual, estupro e doenças sexualmente transmissíveis, graças a este atraso, que em países desenvolvidos hoje são tratados com mais respeito”, comenta.
“Aos iniciantes da arte ‘fetichista’, explicou de forma clara e direta, o fetiche é literalmente como enfeitiçamos e seduzimos a outra pessoa, excitamos. Muitos confundem com ‘Swingue’, esta é uma forma de prática sexual. O Luxúria não incentiva o sexo propriamente dito, mas sim o exercício da sedução“. Conhecido nas noites paulistanas, Werneck transitou por diversos cenários antes de criar a festa. Madame Satã, Clube Massivo, Club Senhora Krawitz, Mercado Mundo Mix, foram alguns dos grandes projetos dos quais participou e a “Escola de Divinos”, grife criou e vestiu por anos grandes nomes de artistas, promoters do Brasil. Hoje além das festas, Werneck é o responsável pela produção artistica da maior parada LGBTI do mundo, realizada em São Paulo.
Os temas que o público mais procura dentro da Luxúria são os relacionados a podolatria (é o fetiche das pessoas que sentem tesão por pés), leather (couro, roupas e acessórios) e shibari (amarração dos pés com o uso de cordas). Sobre ser considerado o Rei do Fetiche no Brasil, Werneck faz questão de ressaltar que é uma pessoa que sempre se declarou fetichista e usa esta estética nas suas roupas que usa e que confeccionava. Sou totalmente contra e repudio práticas de sexo sem permissão, estupros e que tais práticas são totalmente proibidas em suas festas assim como a escatologia (teoria relativa aos acontecimentos do fim do mundo e da humanidade).
Quanto ao público que frequenta a Luxúria, são pessoas na grande maioria liberais e com grande liberdade de pensamento e que encontram na festa uma maneira de exteriorizar seus desejos, suas vontades. “Uma pessoa não pode sair na rua de manhã com Leather de Vinil ou nuas porque serão presas. Os heterossexuais que são Crossdresser não podem sair de casa vestido de mulher porque serão desrespeitados e por aí vai. Todos são respeitados pelas suas vontades e fetiches!”.
Quanto à moda, Werneck não pensa em retomar coleções, mas prepara o lançamento de sua biografia. “Hoje só continuo com minhas tatuagens e pinto o cabelo. Curto vestir vinil e látex. Nas roupas que desenho, gosto de colocar caveiras, teias e animais. Minha fonte de inspiração se tornou, principalmente, os mendigos: o jeito que eles amarram as roupas, fazem sobreposições, cortam o cabelo.”
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